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Ecossistema, tecnologia e pessoas: o futuro do Legal Operations

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Imagine se os advogados e advogadas se concentrassem apenas em atividades técnicas intrínsecas à própria advocacia. Seria um trabalho muito mais centralizado, eficiente e especializado, não acha? Imagine, ainda, se conhecimentos não-jurídicos fossem incorporados a um caso jurídico. O serviço não seria diferenciado, mais atrativo e humanizado?

A boa notícia é que isso é possível graças ao legal operations, e nunca houve tantos recursos que permitam uma gestão jurídica eficaz e estratégica como hoje.

O legal operations começou a ser implementado no Brasil há pouco tempo, mas a fase é de crescimento, e não mais de tentar convencer as pessoas de que o legal operations dá resultados.

Neste artigo, exploraremos a importância e o futuro do legal operations.

LEGAL OPS… O QUE?

Também conhecido como legal ops, legal operations é um modelo de gestão jurídica com função multidisciplinar, que lida com todas atividades não-legais de um escritório ou departamento jurídico, a depender das necessidades de cada contexto, liberando a equipe jurídica da execução de tarefas “burocráticas”.

Os profissionais de legal operations podem ser responsáveis pelo planejamento estratégico, gerenciamento de projetos, gestão financeira, implementação de tecnologia, dentre outras competências, sempre focando em garantir eficiência nas operações, escalabilidade para implementar ferramentas, soluções tecnológicas e recursos que garantam redução de custos, otimização de tempo, crescimento e desenvolvimento do negócio, e o principal, garantir eficiência dos serviços jurídicos gerando resultados para o negócio.

Para uma perspectiva mais conceitual sobre este campo, considere ler o artigo Legal operations: o que é e como está transformando os serviços jurídicos.

O FUTURO É AGORA?

A maior prova de que o futuro do legal operations é agora, talvez seja a CLOBComunidade de Legal Operations no Brasil.  Fundada em 2021, ela é a primeira comunidade brasileira para profissionais dessa área, com o fim de construir uma cultura de legal operations que dialogue com a realidade jurídica brasileira.

Para além da CLOB, no âmbito internacional, temos o CLOC – Corporate Legal Operations Consortium, uma organização de profissionais de legal operations que têm o objetivo de melhorar a prestação de serviços jurídicos, além de guiar os os profissionais na implementação dessa área.

Uma pesquisa feita pela Thomson Reuters em junho de 2021, com 100 empresas, constatou que 80% dos departamentos jurídicos dessas companhias já estruturaram o legal operations (56% acima comparado ao ano de 2017), bem como, que houve um aumento de 52%  do uso de tecnologia legal.

Em relação aos escritórios de advocacia, com uma mudança de mentalidade gerada pelo Direito 4.0, os profissionais de direito passam a ter, gradualmente, uma visão ampla e inovadora sobre o universo jurídico, sendo capaz de enxergar e entender o seu escritório como um negócio, trazendo benefícios e transformações que vão além do direito.

É nítido, que o futuro é agora, a transformação já começou e quem não se adaptar a essa nova realidade, HOJE, ficará para trás. 

ECOSSISTEMA, TECNOLOGIA E PESSOAS

Para gerenciar melhor um ambiente em constante mudança e, ao mesmo tempo, prosperar em sua evolução, os profissionais de legal operations devem focar em: ecossistemas, tecnologia e pessoas.

ECOSSISTEMA: ganhamos quando trabalhamos juntos para melhorar vida de todos

A evolução do legal operations não depende de um único setor dentro dos escritórios e departamentos jurídicos.

Não há “eu” em um ecossistema, e não se trata apenas de como obter lucro e reduzir despesas.

É preciso explorar como podemos fazer essa área funcionar no direito como um todo, é preciso unir forças para alcançarmos todo o ecossistema jurídico.

Começando pela operação, que deve ser gerida por uma equipe que entenda o core business, além de ter o comprometimento com o ecossistema do negócio, procurando se apoiar em parceiros que tenham a mesma mentalidade e fit cultural, para que as atividades operacionais não percam o seu propósito e a razão de existir.

A mudança de mentalidade, da linguagem técnica e rebuscada, as inovações tecnológicas que estão ocorrendo no Direito, dão a deixa necessária para que  as universidades, profissionais do direito e de outras áreas, escritórios de advocacia, departamentos jurídicos e demais parceiros, se unam para lidar com avalanche de informações em uma área que está em crescimento, gerando uma conexão cooperativa para explorar as sinergias.

A essência de um ecossistema é um mais um é igual a três ou mais. O desafio está em criar conexões fortes.

TECNOLOGIA: é uma maratona, não uma corrida

Precisamos de soluções mais conectadas e utilizáveis. Nesse quesito, muitas vezes, o básico funciona.

O uso de tecnologia jurídica é, naturalmente, um dos “tripés”: pessoas, processos e tecnologia, do modelo de gestão proposto pelo CLOC – Corporate Legal Operations Consortium.

Não é fácil: diante do surgimento de tantas demandas por soluções rápidas, há uma alta probabilidade dos escritórios e departamentos jurídicos realizarem escolhas tecnológicas obsoletas ou muito inovadoras, porém, quando se trata de tecnologia no âmbito jurídico, é preciso parar, pensar e refletir – penso, logo inovo

Um estudo da Hyperion Global Partners constatou que  35% das decisões de investimento em tecnologia foram reativas, estimuladas pela chegada de novos softwares e novas tecnologias brilhantes ou outros fatores como mudanças no mercado de tecnologia.

Pode ser tentador utilizar todas as ferramentas e softwares jurídicos disponíveis, todavia, implementá-las da maneira incorreta pode gerar gastos e ser ineficiente quando se quer economizar tempo, reduzir custos e garantir escalabilidade. Além disso, nem todas serão uma boa solução para o seu “problema”.

Comece entendendo completamente os processos atuais que deseja automatizar, qual é a necessidade do seu negócio e como essas soluções tecnológicas podem ajudar o seu departamento ou escritório a evoluir dentro de alguns anos.

É preciso identificar qual tecnologia é mais adequada para a operação e naquele momento. É preciso muito teste e muito trabalho para entender as dores de hoje, mas também quais serão as necessidades amanhã.

É mapeando os processos que conseguimos entender que tipo de tecnologia pode ser utilizada, que seja capaz de gerar valor aos seus negócios e resiliência a longo prazo.

Às vezes, inovar não é trazer algo novo e grandioso, em muitos casos é utilizar as ferramentas que você já tem, adaptá-las para sua realidade, desde que gere resultados naquele momento, e ir aperfeiçoando com o tempo.

PESSOAS: o ser humano no centro da Terra (ou do LegalOps)

Quando se fala em legal operations tudo é muito analítico e operacional, mas se dermos um passo para trás, perceberemos que o legal operations veio para facilitar e melhorar a vida das pessoas – inclusive a dos advogados.

Aliás, pessoas são um dos três pilares do sucesso operacional, ao lado de tecnologia e processos. 

As chaves são: empatia e relacionamento. O profissional de legal operations precisa entender a fundo como funciona a rotina dos advogados para garantir que estes profissionais alcancem seu potencial dentro da sua área, afastando-os de rotinas robóticas e lineares.

Além disso, o profissional de legal operations deve fazer com que a sua equipe seja orientada para o propósito do negócio. É preciso engajar, capacitar e fazê-los pertencentes, fornecendo um ambiente mais coeso, gerando um atendimento eficaz ao negócio. É preciso disseminar a cultura dentro das equipes.

Aliás, uma tecnologia ou software jurídico só podem ser considerados eficientes se forem projetados em torno de uma compreensão profunda das pessoas que eles têm que servir. 

O avanço do legal operations não pode ser construído apenas com a implementação de novas tecnologias – ele tem que ser baseado nas ferramentas tecnológicas que as pessoas realmente possam e necessitem realmente usar.

Em meio a softwares maravilhosos e tarefas complexas, há pessoas por trás dos departamentos e escritórios.

As pessoas precisam do legal operations, mas precisamos mais delas para fazermos ele funcionar. Precisamos de novos modelos mentais, novas perspectivas, novos profissionais no jurídico, para construirmos uma grande comunidade.

VANTAGENS DE IMPLEMENTAR O LEGAL OPS, AGORA

O legal operations veio para garantir que todo o trabalho jurídico seja entregue no prazo, dentro do orçamento, com a inserção de técnicas de design para garantir a modernização dos processos. 

Ainda, veio para garantir que qualquer risco seja identificado e mitigado, e que as melhores ferramentas de tecnologia sejam utilizadas para que haja um bom funcionamento do seu negócio, segurança de dados, clientes felizes, e acima de tudo aumentar a produtividade dos advogados melhorando o fluxo de trabalho, qualidade de vida e motivação.

Grandes mudanças aconteceram e não vão parar de acontecer, o futuro é agora. E é a nossa missão, enquanto profissionais do direito, influenciar para que este futuro seja ainda melhor.

Você está preparado para o futuro?

Richard Susskind on “The End of Lawyers?” – YouTube